E estamos falando de alguém que marcou a história da música brasileira com a sua forma irreverente de se expressar nos palcos, além de um talento indiscutível – Ney Matogrosso.
O filme capta a essência de Ney como artista, e principalmente como ser humano. Ali, estão retratados, sem pudor, os momentos cruciais que fizerem deste homem de 83 anos quem ele é agora.
É a jornada de um ser humano que se mescla com a arte, e se torna um dos ícones da MPB.
Vamos conhecer um pouco mais de “Homem com H” onde “muitos conhecem a voz ,e poucos conhecem o homem” – como é a própria definição do filme.
Ney Matogrosso no set
Logo quando a gente assiste “Homem com H”,a gente enxerga Ney Matogrosso na interpretação de Jesuíta Barbosa. E esse fato de ser o mais natural possível torna o filme mais crível.
Não é uma caricatura do Ney. E esse foi o cuidado do diretor e roteirista Esmir Filho ao produzir “Homem com H”.
Tanto que Esmir enviou o roteiro para o cantor, com intuito de contar a história o mais próximo da realidade do artista:
“ Antes de entregar o roteiro pra ele, eu contava como estava pensando o filme e ele ia alimentando as coisas. Até que eu compartilhei a primeira versão do roteiro, e eu não esqueço que recebi o telefonema – Ney Matogrosso- e eu falei: Vamos lá acho que ele leu.
Crédito:@esmirfilho
– Oi! Eu li o seu roteiro e eu entendi o que você me disse.
Que eu tinha dito pra ele que memória é lacuna, e que a gente nunca vai conseguir desenterrar todas as coisas que ele lembra, mas que eu precisava de uma liberdade poética pra poder criar.
Crédito:@esmirfilho
E ele me ligou falando “Eu entendi o que você falou porque eu sinto as coisa que ali vivi, não necessariamente aconteceram daquela maneira ou eu disse aquilo, mas eu poderia ter dito.”
Foto:@blogletraemusica
Quando ele falou isso, eu pensei:”Eu tô no universo” Ele mesmo me deu essa segurança quando ele disse”
E Ney Matogrosso esteve presente nos bastidores do filme, mas sem interferir nas filmagens:
Crédito:@esmirfilho
“Eu estava ansioso por essa hora. O Esmir me manda muitas fotos. É um misto de coisas, né? Você fica feliz de estar vendo alguma coisa a seu respeito e você fica curtindo o trabalho das pessoas.
Crédito:@esmirfilho
Queria me ver retratado com franqueza, sem nenhuma mentira. Durante o processo, conversei muito com o diretor e cheguei a ler doze roteiros. Normalmente sou durão, não choro, mas, quando fui assistir às filmagens, desabei.
Crédito:@esmirfilho
Eu gosto da arte e eu gosto da arte de atuar também, então pra mim é bom observar isso. – Ney sobre estar no set do filme.
“ Mas é o Ney!” – essa foi a frase da minha mãe, Tania Mara, de 68 anos e fã do cantor, só em ver o trailer de “Homem com H”.
A explicação para essa reação é uma só: a entrega total do Jesuíta Barbosa ao interpretar Ney Matogrosso.
Crédito:@esmirfilho
O ator se preparou intensamente para o papel:
Crédito:@esmirfilho
“O que mais me chamou para fazer a personagem foi saber o que era a energia do Ney naquela época. Um jovem no anos 70.
Eu fiz ele dos 20 aos 50 e pouco anos, um espaço de tempo grande. Mas a mim interessava muito principalmente a época dos Secos e Molhados.
Crédito:@esmirfilho
Ele tinha 33 anos, a idade que tenho e que gravei. Sabia que ele tinha uma energia e uma urgência que é diferente do que ele é hoje.
Ele é calmo, muito ponderado, tem uma fala mansa e uma cadência. Precisava saber como era naquela época, para achar, na diferença, alguma resposta.
Ele era mais impulsivo, tinha uma vontade de modificar a vida dele, de fazer algo diferente, que ele não sabia direito o que seria. Esse Ney que aparece ali é muito mais cheio das dúvidas e incertezas da juventude.
Crédito:@esmirfilho
Ney é um fenômeno artístico. A gente tem, felizmente, essa presença que se faz no corpo de um homem que eu tenho muita admiração.
Viver essa presença é um desafio pra mim , mas é um desafio que eu gosto.
Crédito:@esmirfilho
A gente vem ensaiando há mais de 3 meses, e acho que isso foi bem necessário pra conseguir chegar próximo do que é uma apresentação desse artista.”
A atuação de Jesuíta foi um elemento decisivo para o diferencial do filme. E rendeu até elogios do próprio Ney:
Crédito:@jesuitabarbosa
“Trabalhou, hein, meu filho?” – disse Ney Matogrosso, impressionado com a entrega do ator ao papel.
Presença de palco: a dança
Como todos sabem, Ney Matogrosso tem uma presença de palco hipnotizante, com um figurino versátil e uma interpretação da música na sua dança, no seu corpo.
Crédito:@esmirfilho
E é justamente essa presença de palco o grande destaque da atuação de Jesuíta. A forma como o ator captou os elementos de dança do Ney Matogrosso impressiona. Mérito do seu trabalho em parceria com o coreógrafo Cristian Duarte:
“O Ney, já de cara a gente sabia que não era sobre aprender passos. Era mais buscar uma qualidade, obviamente que tem alguns gestos, umas coisas que a gente tinha que absorver também, mas não no sentido de coreografia como gente… que é muito comum entender que é uma sequência de passos definidos.
Era uma coisa de repetir via improvisação, via evocar uma qualidade, evocar uma referência , processando também com a tua história.
Crédito:@esmirfilho
Achar uma tonalidade. O Ney tem sempre um tanto com ele, mesmo quando ele entrega um vetor mais de performance, né?
Então, achar essas modulações de quando ataca, de está mais cremoso, foi muito interessante de ir junto com o Jesuíta esculpindo esse universo.”
É o que reafirma Jesuíta Barbosa:
Crédito:@esmirfilho
“Um jeito. Talvez de pegar as partes, nos shows, as partes mais gostosas que o Ney coloca ali. A gente consegue espelhar isso, sabe? Talvez num movimento de corpo, talvez uma olhada de cabeça.
Assim a gente vai conseguindo usar algumas possibilidades assim para traduzir essa época e esse artista.”
Vale destacar também a reprodução impecável dos shows marcantes da trajetória de Ney Matogrosso, entre eles a primeira apresentação dos Secos e Molhados na Casa de Badalação e Tédio (1972); seu primeiro show solo, “Homem de Neanderthal” (1975); “Bandido” (1976); e o show em que Ney canta “Homem com H”, dirigido por Amir Haddad (1981)
Sobre o filme
Foto:Marina Vancini
“Homem com H” revela os momentos mais marcantes da vida de Ney Matogrosso, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos.
A infância marcada pela repressão paterna foi fundamental para Ney Matogrosso se tornar quem ele é como ser humano e artista:
Crédito:@parisfilme
“Toda a repressão que Ney sofreu do pai fez aflorar esse ser livre. Ele diz que muitas escolhas que fez na vida foram para contrariar a vontade do pai” – comenta Esmir Filho, diretor e roteirista do filme.
E Ney afirma como essa repressão o fez desafiar os preconceitos e criar um estilo próprio:
“Houve questões em casa desde cedo. Embora eu me enxergasse como uma criança comum, que gostava de pintar, desenhar e cantar, meu pai me chamava de viado.
Um dia, perto de eu deixar o Mato Grosso do Sul aos 17 anos, falou isso de novo e respondi: “Eu não sou, não, mas o dia em que for, o Brasil inteiro vai saber”. A praga pegou.”
A saída do cantor de casa resultou na sua entrada para a icônica banda Secos e Molhados , e o despertar para a magia de ser o que quiser no palco: destaque para as maquiagens inspiradas no tradicional teatro japonês.
Crédito:@esmirfilho
A partir daí, o céu é o limite para Ney Matogrosso. Sucessos como“Rosa de Hiroshima”, “Sangue Latino”, “O Vira”, “Bandido Corazón” e, é claro, “Homem com H” não poderiam deixar de ser mencionados no filme, com performances inesquecíveis de Jesuíta Barbosa.
É claro que os grandes amores de Ney Matogrosso estão presentes no filme: Cazuza (Jullio Reis) e Marco de Maria (Bruno Montaleone).
O primeiro – uma paixão avassaladora, o segundo – o amor sereno do companheiro com quem Ney viveu por 13 anos.
Foto:@blogletraemusica
Com um elenco em perfeita sintonia, o filme é um deleite para os fãs de Ney Matogrosso e curiosos, pois retrata a trajetória artística e pessoal de Ney até a consagração como ícone da música e da liberdade.
“Sou feliz por ser a pessoa que sou e por fazer o trabalho que eu faço – tenho muito prazer com isso, ainda gosto muito. Isso aqui [o filme] é uma pedra a mais nessa construção.
É a primeira vez que eu vou me ver numa tela. Já atuei, já me vi em documentários, mas nunca um filme de ficção.
A obra vai contar a minha vida inteira – é claro que não vai caber a vida toda, é impossível porque a vida de ninguém cabe em uma ou duas horas.
Mas eu sei que é uma opção da direção e do roteiro, um ponto de vista, e eu fico feliz de estar por perto para poder ajudar ao máximo, e para que seja o mais compatível com a minha história”, disse Ney, durante as filmagens.
E acrescenta:
Crédito:@blogletraemúsica
“Sou honesto, íntegro e defensor do que é verdadeiro. Isso é ser homem com H.”
Elenco:
Jesuíta Barbosa – Ney Matogrosso
Jullio Reis – Cazuza
Bruno Montaleone – Marco de Maria
Rômulo Braga – Antônio (pai)
Hermila Guedes – Beíta (mãe)
Mauro Soares – João Ricardo
Jeff Lyrio – Gerson
Danilo Grangheia – Eugênio
Augusto Trainotti – Soldado Cato
Bela Leindecker – Luli
Caroline Abras – Yara Neiva
Regina Chaves – Lara Tremouroux
Participações Especiais:
Céu – Elvira Pagã
Sarah Oliveira – repórter Fátima
Ficha Técnica:
Direção: Esmir Filho
Roteiro: Esmir Filho
Produzido por: Márcio Fraccaroli, André Fraccaroli, Veronica Stumpf
Produtor Associado: Rodrigo Castellar
Produção Executiva: Rodrigo Castellar, Mariana Marcondes
Direção de Fotografia: Azul Serra
Direção de Arte: Thales Junqueira
1º Assistente de Direção: Kity Féo
Figurino: Gabriella Marra
Caracterização: Martin Trujillo
Montagem: Germano de Oliveira
Som Direto: Ana Penna
Edição de Som: Martin Griganaschi
Mixagem: Armando Torres Jr, ABC
Supervisão Musical e Música original: Amabis
Produção de Elenco: Anna Luiza Paes de Almeida
Direção de Produção: Karla Amaral
Produção: Paris Entretenimento
Produtores Associados: Rodrigo Castellar, Adrien Muselet, Esmir Filho