“Cabeleira do Zezé” e as marchinhas de João Roberto Kelly
Quem nunca pulou o carnaval do Rio ao som de “Cabeleira do Zezé”, “Mulata Bossa Nova” e “Maria Sapatão”? Essas tradicionais marchinhas são verdadeiros hinos do carnaval carioca. E todas vindas da mente de uma única pessoa: João Roberto Kelly – o rei das marchinhas.
Tá a fim de saber mais sobre as marchinhas deste genial compositor? É só seguir com a gente!
Marchinha de Carnaval: acima de tudo, uma brincadeira
Sabe porque a marchinha de carnaval faz sucesso até hoje? Porque ela é, acima de tudo, uma brincadeira. Nada melhor do que João Roberto Kelly para explicar o que é a marchinha?
Reprodução:YouTube/Rio TV Câmara
Você não dança marchinha, você brinca. É só prestar atenção em suas letras: a maioria tem sempre presente um tom de sátira.
Tem sátira política :
“Bota o retrato do velho outra vez ,
Bota ele no mesmo lugar
O sorriso do velhinho
Faz a gente trabalhar”.
Tem sátira social:
“Tomara que chova
Três dias sem parar
A minha grande mágoa
É lá em casa não ter água
E eu preciso me lavar”
Sátira de duplo sentido:
“A minha fantasia de diabo
Só falta um rabo, só falta um rabo
Eu vou botar um anúncio no jornal
Precisa-se de um rabo
Pra brincar no carnaval”
Enfim, tem sátiras de todos os tipos possíveis. Aliás, a sátira é uma das características da marchinha de carnaval. João Roberto Kelly conta mais sobre o repertório das marchinhas:
Reprodução:YouTube/TV Câmara
E por que todos nós sabemos cantar as marchinhas? Porque são letras curtas e de fácil absorção. Além de serem consideradas um importante registro histórico, já que retratam o cotidiano da época.
Marchinhas de carnaval: Ó Abre Alas”, o começo de tudo
O que seria o carnaval de rua sem as suas marchinhas? Difícil de imaginar, não? Pelo menos para os cariocas, já que foi no Rio de Janeiro o surgimento da primeira marchinha de carnaval – “Ó Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, em 1899.
Reprodução:YouTube/O samba e o tango
Composta durante o ensaio do cordão Rosa de Ouro, “Ó Abre Alas” tem em seu andamento inspiração do cordão, no estilo de procissão.
E foi a primeira canção feita especialmente para o carnaval. Acredite se quiser, o carnaval não possuía música própria.
Nos bailes daquela época, ouviam-se polcas, valsas, mazurcas… Todas músicas de origem europeia. Nas ruas, o povo se divertia ao som de baterias cadenciadas e canções reaproveitadas.
E Chiquinha Gonzaga e o seu “Ó Abre Alas” vieram mudar para sempre a história do carnaval, dando origem a um novo gênero musical: a marchinha de carnaval.
Aliás, a palavra marchinha vem de um outro estilo musical: a marcha portuguesa.
Com um tempo, os músicos brasileiros colocaram sua identidade própria nas marchinhas, que passaram a ter um andamento mais acelerado, influência do jazz americano.
“Cabeleira do Zezé” – Por trás da letra
Que a “Cabeleira do Zezé” é um dos maiores sucessos do carnaval, isso não se pode negar. Mas você sabe a história por trás da letra? Não? Então, é só continuar com a gente.
Primeira pergunta que se faz: De onde veio a inspiração para compor essa canção? O Zezé existiu? João Roberto Kelly responde:
Reprodução:YouTube/TV Câmara
Agora, você sabia que Os Beatles tiveram um papel importante para a composição desta música?
Reprodução:YouTube/TV Câmara
E qual foi a surpresa de João Roberto Kelly ao voltar de viagem e saber sobre a gravação da “Cabeleira do Zezé”, tornando-se um grande sucesso:
Reprodução:YouTube/TV FACHA
E o mais curioso é: o termo bicha não constava na canção original:
Reprodução:YouTube/TV FACHA
Composta em 1964, “Cabeleira do Zezé” é um dos hinos do carnaval carioca, tamanho é o seu sucesso até hoje:
Reprodução:YouTube/Jorge Goulart – Temas
“Mulata Bossa Nova”
Reprodução:YouTube/Marchinhas de Carnaval
Outro grande hit que faz parte do repertório de João Roberto Kelly é “Mulata Ye Ye Ye”, mais conhecida como “Mulata Bossa Nova”.
Kelly conta como foi compor essa marchinha:
Reprodução:YouTube/TV Câmara
“Maria Sapatão”
Reprodução:YouTube/Faber Azevedo
E a “ Maria Sapatão” existiu? Essa canção seria considerada uma crítica à opção sexual? Com a palavra, o próprio compositor dessa música:
Reprodução:YouTube/TV Câmara
E como “Maria Sapatão” foi parar nas mãos do Chacrinha?
Reprodução:YouTube/TV Câmara
“Bota a camisinha” – feita especialmente para Chacrinha
Reprodução:YouTube/Luciano Hortencio
Pra quem não sabe, “Bota a camisinha” foi feita especialmente para Chacrinha, a pedido dele mesmo. É o que conta João Roberto Kelly:
“O Chacrinha me deixou de saia justa, de calça curta . Ele disse:
– Ô, Kelly! Você tem que fazer uma marcha esse ano pra eu ganhar de novo o carnaval: Bota a camisinha.
Eu disse:
– Chacrinha , isso é um negócio difícil de fazer. Isso é uma coisa íntima. Como é que eu vou fazer “Bota a camisinha” literalmente. Não dá.”
E como é que Kelly saiu dessa? Nada que uma criatividade não ajude:
“Eu inventei um camarada. Tava chovendo muito. E ele metendo uma camisinha pela cabeça.”
Daí a letra:
“Bota a camisinha
Bota meu amor
Hoje tá chovendo
Não vai fazer calor.”
Colombina Ye Ye Ye
Reprodução:YouTube/Miguel Sampaio
E se a gente te contar que a marchinha “Colombina Ye Ye Ye” surgiu só de observar um casal no bar?
“Tinha uma mesa do lado. E tinha um senhor sisudo, de terno e gravata, com uma moça muito bonitinha, uns 20 anos mais moça que ele.
Mas um não falava uma palavra com o outro. Era só olhares. Acho que se entendiam por osmose.
Depois eles iam embora. Ela morava defronte. E iam embora pro apartamento dela.
Quando eu estava saindo, ela aparecia já sem ele. E toda bonitinha, toda moderninha, diferente totalmente daquela menina que tava com ele.
Então aí eu disse: A colombina Ye Ye Ye. Tanto que essa música foi gravada pelo Roberto Audy , e o cantor diz assim:
– Colombina, onde vai você?
Ela responde:
– Eu vou dançar o Ye Ye Ye.
É onde ela ia quando ela saía de noite, depois do encontro com o namorado dela. Ali perto tinha uma boate Ye Ye Ye, de pista.
E foi assim que nasceu a “Colombina Ye Ye Ye”. – João Roberto Kelly
Maior alegria de João Roberto Kelly
E qual será a maior alegria de João Roberto Kelly?
Reprodução:YouTube/TV FACHA
O verdadeiro carnaval
O que você considera como o verdadeiro carnaval? Para Kelly , é o carnaval de rua. Mais precisamente os blocos:
Reprodução:YouTube/TV FACHA
Marchinha de carnaval: politicamente incorreta
Se parar pra pensar, a marchinha de carnaval seria considerada politicamente incorreta nos dias atuais.
Mas o que seria ela sem uma das suas características mais importantes – a sátira. Simplesmente deixaria de existir.
Nada melhor do que uma marchinha de Kelly para pôr uma pedra nesse assunto:
Reprodução:YouTube/TV Câmara
Sobre João Roberto Kelly
Pianista talentoso, João Roberto Kelly começou a sua carreira ao musicar a revista “Sputnik no morro” e aberturas de programas como “Times Square”.
O criador do sambalanço teve suas composições gravadas por grandes cantoras como Elza Soares, Elizeth Cardoso, Dalva de Oliveira e Elis Regina. No seu repertório, sucessos como Dança do Bole-Bole.
Mas as marchinhas de carnaval fizeram de Kelly um artista conhecido. Tanto que ele ganhou o título de O Rei das Marchinhas.
Tocadas até hoje, suas composições são eternas e parte importante do carnaval do Rio.
Agora, como a música apareceu na vida desse genial compositor?
Reprodução:YouTube/TV FACHA
Com tantas marchinhas de carnaval no seu repertório, será que existe alguma favorita de Kelly?
Reprodução:YouTube/TV Câmara
Definitivamente, João Roberto Kelly deixa para sempre sua marca na história do carnaval carioca.
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Salve o carnaval!! Muito bom , Carola. Vamos resgatar nossas tradições.
Salve as marchinhas!