O que esperar de “Meu Nome é Gal”
O que esperar de “Meu Nome é Gal”, filme sobre uma das maiores cantoras do Brasil – Gal Costa? Uma cinebiografia fiel e profunda? Um mergulho na sua carreira artística?
Bom, o longa, estrelado por Sophie Charlotte numa impressionante atuação, não é nenhuma coisa nem outra, e nem pretendia ser, mas, mesmo assim, nos impacta.
Quer saber por que? Então, fica com a gente.
Recorte de um período importante da carreira da artista
Lançado no dia 12 de outubro, “Meu Nome é Gal” é um recorte de um período importante da carreira da artista.
Foto:Divulgação
Com direção de Dandara Ferreira (diretora da série documental da HBO – “O nome Dela é Gal”) e Lô Politi, o filme retrata a chegada da cantora ao Rio de Janeiro , em 1967, até o icônico show “FA-TAL : Gal a Todo Vapor”, em 1971.
Crédito:Stella Carvalho
E não foi um mero acaso a escolha dessa fase da vida de Gal, pois é justamente quando Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gracinha, se torna Gal Costa.
Alguns fatores foram decisivos para tal transformação:
- A chegada de Gal ao Rio;
- o contato com o surgimento de uma nova cultura – a tropicália,
- o encontro com Caetano Veloso e Gilberto Gil,
- o empresário Guilherme Araújo;
- a ditadura e suas consequências.
Gal e Caetano – o valor de uma amizade
Crédito: Stella Carvalho
O grande destaque do “Meu Nome é Gal” é , sem sombra de dúvida, a amizade entre a cantora e Caetano Veloso.
O filme dá uma dimensão do quanto foi importante na vida de ambos essa amizade.
E a atuação de Rodrigo Lélis como Caetano foi primordial para reforçar o valor da amizade entre os artistas.
O ator impressiona não só pela semelhança física, mas também pelos gestos, pela maneira de ser Caetano:
Crédito:Stella Carvalho
“Eu penso que eu preciso trazer pra mim esse Caetano, mas eu também não quero imitá-lo.(…) Eu quero trazer pra mim o meu Caetano, e trazer pro filme também a minha versão de Caetano.
Então, por isso que eu sempre mudo o visual. Porque quando a gente traz pro nosso dia a dia, quando a gente vai pra frente da câmera, tudo fica mais natural e mais tranquilo de se fazer.
Porque as pessoas percebem nesse gestual, nessas coisas uma aproximação. É muito nítido assim.” – conta Lélis, em entrevista ao Canal Brasil.
Foto:Divulgação
O apoio de Caetano à carreira artística da Gal, quando questionada sobre a sua postura tímida ao cantar, ou a parceria musical entre eles e, principalmente, a confiança que um tinha no outro nos faz entender que essa caminhada artística não é solitária.
Nascia aí uma amizade pra vida toda.
Quebrando a barreira da timidez
Foto:Divulgação
“Você precisa se soltar mais” – essa é uma frase que todo tímido escuta. E com Gal Costa não foi diferente. Ainda mais quando se é uma cantora – a expectativa é grande e você se torna o centro das atenções.
Sophie Charlotte, numa brilhante atuação, consegue mostrar na postura, no olhar esta Gal quebrando aos poucos a barreira da timidez.
Crédito:Stella Carvalho
O figurino e os estilos de cabelo também são exemplos dessa transformação da cantora que,sim, se soltou mais, porém no seu tempo.
Em entrevista ao Canal Brasil, Sophie Charlotte contou um pouco sobre o processo de compor essa Gal , que ainda teve a benção da própria cantora:
“Poder assistir a todos os shows, durante toda essa jornada (a atriz se dedicou 6 anos ao projeto do filme), eu procurei segui-la.
E mergulhar mesmo na obra dela, ouvir todos os dias, compulsivamente, mas aquela compulsão boa.
Crédito:Globo Filmes
Cada vez que eu assistia os shows gravados, mais uma camada se abria. Na verdade, fui multiplicando entendimento da contação de histórias que a Gal faz através das músicas.
E tentando criar também um universo do que eu acho que deveria permear essa criatividade toda. Porque a Gal também é muito reservada, então, a nossa obra é ficção.
Crédito:Stella Carvalho
Então, a partir da história da Gal, falar desse tempo, falar dessa feitura de uma descoberta de uma jovem artista.
Então, foi um grande privilégio e uma grande aventura.”
Guilherme Araújo – essencial na carreira de Gal
Uma das figuras essenciais no início da carreira de Gal foi o produtor musical Guilherme Araújo.
Como retratado no filme, o empresário de Caetano e Gil é o cara responsável por mudanças importantes na vida profissional da artista.
Crédito:Stella Carvalho
Um exemplo disso é a escolha do nome artístico da cantora. Pode-se dizer que Guilherme a batizou como Gal Costa, já que Maria da Graça soava para ele nome de cantora de fado.
É exatamente esse um dos momentos mais importantes do filme, pois Maria da Graça se torna Gal Costa.
Destaque para a brilhante atuação de Luis Lobianco na medida certa, sem cair numa figura caricata. E o ator conta um pouco o papel de Araújo na vida dos artistas baianos:
Crédito:Stella Carvalho
“Guilherme é uma figura determinante. Foi um cara que olhou para esses jovens e falou: “Bom, isso aqui é diferente. Isso aqui não tem no mundo inteiro.”
Essas pessoas eram internacionais. Elas eram artistas. Obviamente que acreditavam no que faziam, mas não tinham essa noção que Guilherme, com essa inteligência dele e com a intuição dele, viu e investiu e lançou.
Era empresário de Bethânia, lançou a Gal e batizou Gal.”
Tropicália, ditadura, festival
Foto:Divulgação
“Meu Nome é Gal” peca um pouco ao tratar superficialmente de fatos importantes como:
- o surgimento da Tropicália,
- a ditadura de 68 com o decreto do AI-5,
- e o porquê das vaias para Caetano Veloso no Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record.
Parece que a direção do filme deduz que todos os espectadores saibam do contexto histórico, político e cultural da época.
Por outro lado,o filme consegue mostrar a transformação interna da Gal como ser humano, e consequentemente como artista.
Foto:Divulgação
A decisão de cantar “Divino Maravilhoso” no festival, e o esgotamento emocional pós-apresentação são indícios do despertar de uma nova Gal.
Show “FA-TAL – Gal a Todo Vapor”
Crédito:Stella Carvalho
E o público estava na expectativa da forma de abordagem do filme em relação ao icônico show “FA-TAL- Gal a Todo Vapor”, de 1971. Afinal de contas,” FA-TAL” consolidou Gal Costa como porta-voz da tropicália, após o exílio de Caetano e Gil em 1969.
Crédito:Stella Carvalho
Embora a atuação de Sophie Charlotte impressionasse pelo grau de precisão da atriz em interpretar Gal com seus gestos e postura no palco, o show retratado deixou a desejar.
Faltou apresentar, de forma profunda, a concepção até a realização de um dos mais marcantes shows da música brasileira.
Veredicto
Foto:Divulgação
Bom, apesar de “Meu Nome é Gal” não mergulhar fundo na carreira de cantora, o filme ainda sim emociona.
Porque não se trata de um longa sobre a vida profissional da artista, mas sim da sua caminhada.
Crédito:Stella Carvalho
É a história de uma pessoa com o sonho de viver de música. E para isso, ela rompe a barreira da timidez e se liberta das amarras que a impediam de seguir em frente.
Quem nunca passou por isso? No final, todos somos um pouco Gal.
Elenco:
Sophie Charlotte, Rodrigo Lellis, Camila Mardila, Luis Lobianco, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Chica Carelli e George Sauma
Ficha Técnica:
Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi
Roteiro Final: Lô Politi
Roteiro: Lô Politi, Maíra Buhler e Mirna Nogueira
Direção de Fotografia: Pedro Sotero
Direção de Arte: Juliana Lobo, Thales Junqueira
Figurino: Gabriella Marra
Maquiagem: Tayce Vale
Som Direto: Abrão César
Edição de Som: Beto Ferraz
Mixagem: Toco Cerqueira
Trilha Sonora: Otavio de Moraes
Montagem: Eduardo Gripa e Eduardo Serrano
Produção Executiva: Jatir Eiró, UPEX, Mariana Marcondes
Produtores Associados: Wilma Petrillo, Dandara Ferreira e Jorge Furtado
Produzido Por: Marcio Fraccaroli, Lô Politi, André Fraccaroli, Veronica Stumpf
Distribuição: Paris Filmes
Codistribuição: SPCINE, Secretaria Municipal de Cultura
Patrocínio: Rede D’Or, Hering
Apoio: ProAC, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura do Estado de SP, Governo Federal, Lei Aldir Blanc, BRDE, FSA, ANCINE, (bandeira nacional)
Coprodução: Globo Filmes, Telecine e California Filmes
Produção: Paris Entretenimento e Dramática Filmes
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