Chiquinha Gonzaga – uma mulher à frente do seu tempo
Como não comemorar o Dia Internacional da Mulher sem lembrar daquelas que fizeram e ainda fazem diferença na história da música brasileira. Por isso , do dia 8 de março a 12 de março, você vai saber mais sobre as 5 mulheres que abriram as portas do universo musical para o público feminino. Cada uma a seu modo deixa a sua marca registrada para sempre na história da música do nosso país.
Vamos começar por aquela considerada a primeira compositora popular do Brasil: Chiquinha Gonzaga. Aliás, Chiquinha Gonzaga foi pioneira em romper as barreiras de uma sociedade patriarcal: primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca com letra, e primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Quer saber mais sobre a história dessa grande musicista? Então, fique com a gente.
Carreira Musical
Antes de falar da carreira musical de Chiquinha Gonzaga, é preciso entender a época em que ela viveu:o Segundo Reinado (1840 a 1889). Tocar piano, compor e publicar era algo comum entre as senhoras daquela época, desde que isso se mantivesse na esfera da vida privada.
A profissionalização da mulher como músico era algo inédito naquele período. Só quem tinha talento, determinação e coragem encarava esse desafio, o que não faltava em Chiquinha Gonzaga. Ela dava aulas particulares de piano, tocava no conjunto do flautista Joaquim Callado e aperfeiçoava sua técnica com o pianista português, Artur Napoleão.
Primeiro sucesso: “Atraente”
Chiquinha Gonzaga estreou como compositora em 1877, com a polca “Atraente”. Essa música surgiu da improvisação em roda de choro na casa do compositor Henrique Alves de Mesquita. Tornou-se um grande sucesso e levou Chiquinha à fama. “Atraente” tornou-se um clássico da música instrumental brasileira. E passou a fazer parte do grande repertório do choro.
Reprodução:YouTube/Choronas/Instrumental Sesc Brasil Link:https://youtu.be/FrzLSM92YyM
Teatro Musicado
A compositora resolveu escrever partituras para o teatro musicado e lançou-se no teatro de variedades e revistas. Sua estreia foi com a opereta “A Corte na Roça”, em 1885. A imprensa não sabia como mencionar Chiquinha Gonzaga já que não existia o feminino de maestro naquela época.
Em 1889, Chiquinha Gonzaga regeu um concerto de violões no Teatro São Pedro de Alcântara. E teve como objetivo promover esse instrumento ainda mal visto pela sociedade daquele período.
Mas foi com a opereta “Forrobodó”, em 1911, que Chiquinha obteve sucesso. Foram 1500 apresentações seguidas, um marco deste gênero no Brasil.
Primeira Marchinha de Carnaval: “Ó Abre Alas”
E em 1889, Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marchinha de carnaval : “Ó Abre Alas”. Chiquinha a escreveu durante o ensaio do cordão Rosa de Ouro, no bairro do Andaraí, onde vivia a maestrina. A marchinha foi inspirada no andamento do cordão, que utilizava a procissão religiosa como base. Nascia então a marcha rancho.
Até então o carnaval não tinha música própria. Nos bailes dos salões, as pessoas dançavam ao som de polcas, valsas, quadrilhas… E foi com Chiquinha Gonzaga que se estabeleceu uma definição de gênero para o carnaval: a marchinha. Com isso, Chiquinha ganhou o reconhecimento eterno.
Reprodução:Youtube/Carlos Alberto Hang Link:https://youtu.be/piuoUVPXD1g
Clássico da música instrumental: “Corta-Jaca”
Uma das músicas mais gravadas e conhecidas de Chiquinha Gonzaga é “Corta-Jaca”. Ela fazia parte da opereta “Zizinha Maxixe”, em 1895.
Mas só ficou famosa após ser tocada pela primeira-dama, Nair Teffé, no Palácio do Catete, em 1914. Pois uma música considerada popular nunca fora executada na sede do Governo, e ainda mais diante do corpo diplomático e da elite da época. E “Corta-Jaca” torna-se um clássico da música instrumental brasileira.
Reprodução:YouTube/Choronas/Instrumental Sesc Brasil Link:https://youtu.be/FrzLSM92YyM
Primeira compositora popular do Brasil
Chiquinha Gonzaga escreveu cerca de duas mil composições em diversos gêneros: polcas, valsas, maxixes, tangos, lundus,choros, fados, quadrilhas, mazurcas e serenatas.
Chiquinha Gonzaga é considerada a primeira compositora popular do Brasil, pois ela conseguiu adaptar o som do piano ao gosto do povo.
Luta pelos Direitos Autorais e pela Abolição da Escravatura
Filha de escrava alforriada com um marechal do Exército Imperial Brasileiro, Chiquinha Gonzaga defendia as grandes causas sociais do seu tempo como a abolição da escravatura.
Tanto que ela vendeu suas partituras de porta em porta a fim de arrecadar fundos para a Confederação Libertadora. E conseguiu comprar a alforria de José Flauta, um escravo músico, com o dinheiro das vendas de suas músicas.
Cansada de sofrer exploração abusiva do seu trabalho, Chiquinha Gonzaga resolveu fundar, em 1917, a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat). Esta foi a primeira sociedade protetora e arrecadadora de direitos autorais do país. Abaixo, Chiquinha ao lado dos autores teatrais:
Chiquinha foi autora de músicas de sucesso, principalmente do teatro musicado. Ao todo, compôs músicas para 77 peças teatrais.
Vida Pessoal
Chiquinha Gonzaga casou-se aos 16 anos com o empresário Jacinto Ribeiro do Amaral, escolhido pelo seu pai. Como o marido não gostava de música, proibiu Chiquinha de tocar. Então, a compositora resolveu abandonar o casamento. E só pode levar o mais velho dos três filhos que teve com Jacinto, pois não servia como um “bom exemplo de mãe”. E sofreu muito por isso.
Mais tarde, Chiquinha Gonzaga iniciou um relacionamento com o engenheiro João Batista Carvalho. Essa relação acarretou numa ação judicial de divórcio perpétuo movida pelo marido Jacinto, por abandono de lar e adultério.
Mas se separou de João Batista devido às relações extraconjugais dele. E não pode levar consigo a filha dela com João.
Aos 52 anos, Chiquinha se envolveu com o jovem português de 16 anos, João Batista Fernandes Lage, que se tornaria seu companheiro até o final da sua vida.
Importância de Chiquinha Gonzaga: Dia da Música Popular Brasileira e Medalha de Reconhecimento
Chiquinha Gonzaga fez tanto pela música brasileira. Por isso, em sua homenagem, foi sancionada, em maio de 2012, a Lei Federal 12.624 que instituiu o Dia da Música Popular Brasileira. Dia este comemorado no aniversário de Chiquinha – 17 de outubro.
E, em 1999, foi criada a Medalha de Reconhecimento Chiquinha Gonzaga, com o objetivo de homenagear personalidades femininas que reconhecidamente tenham se destacado em prol das causas democráticas, humanitárias, artísticas e culturais, no âmbito da União, Estados e Municípios.
“Chiquinha Gonzaga deu uma contribuição decisiva à cultura brasileira ao criar as bases sobre as quais se construiu a música popular; ao elaborar a síntese musical entre influências européias e africanas; e ao fixar uma rítmica brasileira.
Para a tarefa, foi fundamental sua coragem pessoal. A compositora que se serviu, sem preconceitos, de todos os gêneros musicais que encontrou, foi a mesma mulher que passou a vida desafiando preconceitos.
Por fim, nos deixou sua palavra de ordem: abrir alas, passar e vencer!” – Edinha Diniz (autora da biografia “Chiquinha Gonzaga – uma História de vida”)
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